Os primeiros sinais de industrialização se iniciaram por volta de 1760 durante a primeira revolução industrial na Inglaterra, desde então o setor têxtil que foi pioneiro neste processo se tornou um dos maiores núcleos lucrativos. Uma indústria têxtil pode ser qualquer uma que esteja presente na cadeia têxtil, desde as que fabricam as matérias-primas, até as que terminam com a fabricação do produto final que é destinado para o consumidor. Esta indústria realiza a fabricação de vestuários, artigos e artefatos têxteis, produtos utilizados no setor industrial ou peças usadas no lar do consumidor. Em vista disso, não é novidade que a biotecnologia possui grande importância nessa área, sendo que a sua primeira aplicação ocorreu há muito tempo de forma empírica com o crescimento de microorganismos no linho para a separação das fibras dos caules da planta, conhecida hoje, como fermentação.
Entretanto, a aplicação de enzimas na indústria têxtil teve início por volta de 1857 com a utilização do extrato de malte na desengomagem de amido e no final da década de 1970, utilizou-se celulases na lavação de tecidos com o intuito de remover fibrilação, tanto que atualmente as celulases estão presentes em detergentes em pó.
As enzimas mais utilizadas são aquelas obtidas por processos fermentativos e o campo de pesquisa possui um forte desenvolvimento visto que sua utilização reduz consideravelmente o impacto ambiental. No âmbito industrial as enzimas são empregadas nas fases de fiação, tingimento e acabamento de tecidos, na remoção da sujeira do algodão são utilizadas enzimas pectinolíticas, já no processo de alvejamento as catalases são responsáveis pela conversão do peróxido de hidrogênio em água e oxigênio e no processo de tingimento dependendo do tipo de tecido são utilizadas proteases.
A biotecnologia vem trazendo novos estudos que possibilitam a criação de misturas enzimáticas para serem aplicadas em processos específicos, como as celulases, amilases, pectinases, proteases e até as oxidorredutases.
Uma indústria alemã cultiva bactérias geneticamente modificadas em biorreatores para produzir a proteína da seda da aranha e por fim transformar em fibra; uma outra empresa alemã-israelense produz fibras e corantes têxteis a partir da utilização de algas cultivando-as em circuitos fechados; a empresa NEFFA cultiva micélios fúngicos para utilizar na fabricação de espumas biodegradáveis e isolantes em jaquetas, luvas e calçados, esses são outros exemplos de como a biotecnologia vem sendo aplicada no meio industrial e revolucionando de modo positivo processos que antes eram muito nocivos ao meio ambiente.
Indústria têxtil no Brasil
Apesar dos povos indígenas já produzirem suas vestimentas com fibras vegetais, a indústria têxtil brasileira teve seu início com a chegada e ocupação dos portugueses no país, que tinham como costume as regras aplicadas na Europa.
De acordo com a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), em 2019, o setor têxtil era o segundo maior empregador da indústria de transformação brasileira, representando 16,7% dos empregos no país, perdendo apenas para o setor de alimentos e bebidas, e o segundo maior gerador do primeiro emprego. Ainda de acordo com a Abit, em 2019 o faturamento da Cadeia Têxtil e de Confecção foi de R$185,7 bilhões.
Sendo esta uma área muito rentável, são diversas as inovações, havendo alguns investimentos. Por isso, o uso da biotecnologia é indispensável e se engana quem pensa que não há no Brasil. Um exemplo é o realizado por pesquisadores da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e da UMC (Universidade Mogi das Cruzes), criando um tecido com propriedades antivirais e antibacterianas. Isto foi possível graças a utilização do fungo Fusarium oxysporum para transformar o nitrato de prata em nanopartículas de tal metal, sendo então colocado em um tecido de algodão, o que impediu o crescimento de microrganismos. Outra pesquisa brasileira, desta vez na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), produziu um tecido feito de nanocelulose a partir de bactérias. Tal produto usa um volume de água muito menor do que o utilizado normalmente para tecidos de algodão, além de ser biodegradável, ganhando assim em sustentabilidade.
Enfim, a biotecnologia na indústria têxtil utiliza diversos organismos vivos e moléculas, podendo produzir diferentes tipos de produtos e assim atendendo a necessidade da população, principalmente na indústria da moda. Porém, a principal pauta da biotecnologia nesta área deve ser a do cuidado com o meio ambiente, já que, não é novidade que estas indústrias são uma das mais poluentes no mundo, gastando volumes exorbitantes de água, produzindo resíduos e ainda jogando CO₂ na atmosfera.
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REFERÊNCIAS
MONTEIRO, V. N.; SILVA, R. DO N. Aplicações Industriais da Biotecnologia Enzimática. Revista Processos Químicos, v. 3, n. 5, p. 9-23, 2 jan. 2009.
TEXTILE INDUSTRY. Biotecnologia Aplicada à Indústria Têxtil – Indústria Têxtil e do Vestuário – Ano XV. Disponível em: <https://textileindustry.ning.com/m/blogpost?id=2370240%3ABlogPost%3A23891>. Acesso em: 29 ago. 2022.
PROFISSÃO BIOTEC. Biotecnologia na produção de roupas. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/biotecnologia-na-producao-de-roupas/>. Acesso em: 29 ago. 2022.
G1: pequenas empresas & grandes negócios. Startup de biotecnologia produz tecido para roupas feito a partir de bactérias. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/pme/pequenas-empresas-grandes-negocios/noticia/2018/12/02/startup-de-biotecnologia-produz-tecido-para-roupas-feito-a-partir-de-bacterias.ghtml> Acesso em: 31 ago. 2022.
HORIZONTE AMBIENTAL. O que é uma indústria têxtil?. Disponível em: <https://horizonteambiental.com.br/industria-textil/> Acesso em: 29 ago. 2022