No tema de biotecnologistas empreendedoras, entrevistamos duas biotecnologistas incríveis, formadas pela Universidade Federal do Ceará.
Amanda Moura e Larissa Belizário foram unidas pela biotecnologia e pelo amor às plantas e a natureza são idealizadoras do Canto da Jandaia, uma marca que trabalha com produtos cosméticos naturais, livres de compostos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, além disso ainda levantam a bandeira do autocuidado, do incentivo ao empreendedorismo feminino e do respeito à natureza. Elas nos contaram um pouco sobre a jornada até fundarem seu Negócio e a sua experiência.
LiNAbiotec: Contem um pouco sobre vocês sobre e a sua história com a biotecnologia
Larissa Belizário: Entramos na biotecnologia em 2015, nos formamos ano passado, em 2019. Eu pelo menos nunca pensei que eu faria algo envolvido com empreendedorismo quando entrei na Universidade, muito pelo contrário, achava que eu ia seguir carreira acadêmica e continuar na área de pesquisa. Só no finalzinho do curso que fomos descobrindo mais esse lado, de querer fazer algo nosso, e de “sair” da academia.
Minha “trajetória” dentro da biotec foi se enveredando mais pro lado da microbiologia, fui IC num laboratório de prospecção de fármacos anticâncer no LABBMAR, e desenvolvi meu tcc no LEMBIOTECH, trabalhando com biotecnologia ambiental, na área de biorremediação de ambientes contaminados com petróleo com o uso de microrganismos. Sempre a gente gostou desse lado ambiental, tanto eu, como a Amanda.
Amanda Moura: Eu sempre me identifiquei com as plantas e durante toda a minha graduação, trabalhei com isso. A minha primeira bolsa foi trabalhando com Moringa na degradação de corantes. Em seguida, fui pra uma outra bolsa que trabalhava com Castanhola; essa segunda bolsa gerou meu TCC, que foi com a inibição de bactérias através de um enzima encontrada no fruto das castanholas.
Durante essa segunda bolsa eu também fazia estágio em uma empresa de cosméticos, foi lá que eu descobri várias coisas legais e eu comecei a me identificar com a área. Só que como a Larissa disse, a gente era muito pro lado acadêmico e não andava com os ditos “empreendedores”, mas quase no final da graduação todo mundo ficou se perguntando o que iria fazer da vida depois e a gente foi discutindo, fazendo cursos e etc. Até que um dia eu e a Larissa começarmos a ter essa ideia do Canto da Jandaia.
A gente também já fez parte de vários projetos da UFC envolvendo a temática e eu participo atualmente do VerdeLuz que é uma ONG daqui do Ceará. Faço questão de falar essas nossas vivências pois é algo que já construímos antes do Canto.
LiNAbiotec: Qual foi a sua inspiração para empreender?
Larissa: O pontapé foi um estágio que a Amanda fez numa empresa daqui do ramo de cosmetologia, e isso juntou com alguns hábitos e vontades nossas.

Tanto eu como a Amanda, além dos nossos amigos, de uns tempos pra cá começamos a nos importar mais com a questão ambiental em pequenas atitudes no dia-a-dia, como redução de lixo, uso de plásticos e etc. Tudo isso acabou refletindo também no nosso consumo de uma forma geral, começamos a nos interessar por produtos naturais e consequentemente pelos cosméticos naturais, daí acabou juntando tudo. Aliado com a experiência da Amanda com cosméticos, decidimos em 2019 colocar esse projeto pra frente. O empreendedorismo surgiu mais pela necessidade que a gente queria de colocar esse projeto pra funcionar
Amanda: Além disso a gente tinha um grupo chamado “Integralise” , onde a gente se aventurava fazendo sabonetes repelente. Inclusive, ganhamos um prêmio do CEMP (Centro de Empreendedorismo) da UFC no ano de 2017. Fomos juntando várias experiências e vontades, não foi por um grande acaso; eu penso que foram várias peças se encaixando até chegar ao Canto da Jandaia.
LiNAbiotec: Qual foi a sua maior dificuldade para estruturar o seu negócio?
Larissa: A primeira delas foi A GENTE SE FORMAR, porque a gente queria começar o projeto e tinha que defender a monografia. A segunda maior dificuldade foi o medo da questão financeira, pois logo depois do projeto nascer, veio a pandemia, daí ficamos com receio de não dar certo, de não termos retorno financeiro, mas mesmo assim continuamos e tem dado muito certo!
Amanda: Pois é a pandemia realmente meio que assustou e desesperou a gente
Larissa: Mas, apesar de tudo, tem dado tudo muito certo, a gente inclusive fica muito feliz pela aceitação e o apoio que temos recebido dos clientes e amigos
Amanda: A gente teve muito apoio de muita gente e eu creio fortemente que isso fortaleceu nosso projeto
Larissa: A gente sente isso muito forte vindo dos nossos amigos e colegas da biotecnologia. A biotecnologia e biologia (da UFC) em peso saiu apoiando e divulgando a gente, comprando da gente, e isso é muito incrível.
Amanda: Não tivemos um planejamento financeiro pra de fato começar, a gente foi investindo o que a gente tinha, que não era muito, pra tentar fazer dar certo. O nosso planejamento não foi grande mas tivemos várias reuniões e pelejas pra iniciar, não foi nada do dia pra noite.
Larissa: É, acho que a maior dificuldade foi o medo do financeiro não dar certo mesmo (risos).

Amanda: Ainda tem essa questão de saber trabalhar nas redes sociais; é de fato o que alavanca muita coisa, e sem essa rede de apoio nada vai pra frente. Tentamos apoiar outras lojas, outros artistas e ter em mente que o que a gente quer não é ser rica, é tentar viver e trabalhar com coisas que a gente gosta. Estar sempre com o pé no chão é muito importante porque a gente sabe que tem dificuldade no meio do processo.
LiNAbiotec: Então, qual vocês acham que é o maior desafio pra quem é Biotecnologista e quer empreender?
Amanda: Eu creio que o maior desafio é se encontrar, por que sabemos que o empreendedorismo dentro da Biotecnologia não é tão acessível.
Larissa: Olha, eu acho que uma das maiores dificuldades é vencer o medo de começar exatamente por isso (não ser um conhecimento acessível).
A biotecnologia tem muitas áreas e ao mesmo tempo acaba sendo “limitada” em muitos aspectos, na MINHA EXPERIÊNCIA, eu achava que ou seguiria no mestrado ou teria que arrumar alguma coisa em alguma empresa, e a gente sabe o quanto isso é difícil. Só que chegou um momento que eu bati o pé e disse que eu, Larissa, não queria seguir na pesquisa acadêmica. Depois disso, eu fui ver o que eu podia fazer, e ainda bem que eu tinha a Amanda sempre colocando a gente pra cima e fazendo a gente acreditar que ia dar certo, que a gente tinha que tentar. A gente deu as mãos e só foi (risos).
Realmente empreender dentro da biotecnologia não é nada fácil, na faculdade se acostuma a pensar que tem que ser uma GRANDE MULTINACIONAL BIOTECNOLÓGICA e às vezes não precisa. Na nossa vida de biotec adquirimos muitas “skills” (resiliência é uma delas) que a gente pode usar em qualquer ramo.
Amanda: Concordo com tudo, a gente é catequizado a acreditar que precisamos purificar uma enzima para iniciar um empreendimento. O curso ainda tá um bebê e eu creio que ele ainda tá sendo moldado , mas uma das coisas que eu vi na Biotec e que eu não vi no antigo curso que eu fazia é que todas as cadeiras você precisa ser criativo e é essa criatividade e essa independência que você cria de ir atrás das ideias. É algo que transforma os seus pensamentos.
Larissa: Queríamos um laboratório para fazer sabonetes e cosméticos cheios de biotecnologia envolvida? SIM CLARO, mas aí é um passinho de cada vez.
Amanda: Meu deus SIM, a gente aprende a se virar viu.
LiNAbiotec: Pra finalizar, mandem um recado para quem quer empreender em biotecnologia.

Larissa: Eu queria falar o que eu diria pra mim mesma: não se desespera que o mundo não é só o que você vê dentro da sua caixinha universitária. A gente pode e deve se permitir tentar e errar, provar e ver que não gosta, mudar de área, de pensamento, de tudo. O importante é estar onde você quer estar, e correr atrás daquilo que te faça bem.
Tente avaliar o que você gostaria MESMO de fazer, porque se você quer mesmo investir seu tempo, paciência, força de vontade em algo, que pelo menos seja em algo que te traga um retorno pessoal bom, porque os outros retornos acabam vindo com o tempo. Não adianta você investir em algo que “esteja em alta” se você não se encaixar ali, porque uma hora o encanto acaba e você se vê sem saber o que fazer. É um caminho demorado e muito trabalhoso, então saiba no que você está entrando. Não se desespere por que as dificuldades sempre vão existir, a gente só precisa aprender a dar umas rasteiras nelas.
Amanda: Eu queria acrescentar uma coisa em relação ao empreendedorismo, muitas pessoas começam a pegar esse conceito e unir com outros conceitos sabe, como o veganismo é algo que tá na moda e todo empreendimento leva consigo para tentar chamar atenção desse público. E eu acredito que empreender tem que ser algo a sua cara, porque caso contrário ninguém vai se identificar. Hoje em dia as pessoas cada vez mais querem conhecer os produtores, quem de fato está nos bastidores do empreendimento. E outra coisa… empreendedorismo não é “pensar fora da caixa” esse conceito não deveria ser ensinado, ele é algo prático e que por muitas vezes é tratado como um receita que depois de alguns passos você consegue sucesso. As pessoas precisam entender que tudo é um processo e não é pensando em lucros ou em coisas mirabolantes que você chega em algum lugar.
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A LiNA entrevistou duas biotecnologistas, mulheres que estão conseguindo seu espaço. A biotecnologia no Brasil é um campo muito grande e inexplorado. Ser pioneiro não é fácil em lugar nenhum, muito menos no Brasil. Nossa missão como primeiros biotecnologistas da história brasileira é abrir o caminho. e nós já começamos.
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Reportagem: Miria Oliveira | Comunicadora da LiNAbiotec
Revisão e edição: Bruno Pereira | Secretário de Comunicação da LiNAbiotec
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