No Brasil, assim como no mundo, o racismo está impregnado nos pilares de sua formação. Assim, a ascensão do negro no ambiente social, mesmo que possua capacidade intelectual para tal, ainda é extremamente dificultada, principalmente quando em conjunto com outro grande preconceito existente: a inserção feminina no mercado de trabalho. Portanto, citaremos agora 3 exemplos de mulheres negras que venceram os desafios socialmente impostos para você se inspirar.
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Jessie Isabelle Price

Jessie Isabelle Price
Jessie Isabelle Price é conhecida por seu trabalho como microbiologista veterinária onde desenvolveu vacinas para combater organismos que matam patos e aves aquáticas. Nascida em 1º de janeiro de 1930 em Montrose, Pensilvânia, ela foi criada por sua mãe solteira, Teresa Price, que incentivou o trabalho duro na escola. Depois de frequentar suas escolas públicas predominantemente brancas no bairro, ela foi aceita na Universidade de Cornell. Price se formou na Faculdade de Agricultura da Universidade de Cornell com um diploma de bacharel em microbiologia em 1953. Em 1956, ela retornou a Cornell para obter seu mestrado, graduando-se em 1959 com um mestrado em bacteriologia, patologia e parasitologia veterinária. Nesse mesmo ano, ela ganhou seu doutorado com uma dissertação sobre “Estudos sobre a infecção por Pasteurella anatipestifer em patos brancos de Pekin”, publicada no Journal of Avian Diseases.
Seu trabalho consistiu principalmente no entendimento das interações entre doenças na vida selvagem e contaminantes ambientais, especificamente em aves aquáticas. Seu objetivo era identificar as doenças microbianas para reduzir a mortalidade da vida selvagem. Em outro projeto de pesquisa, ela foi capaz de determinar por que algumas áreas úmidas tinham maior frequência de surtos de cólera. Essa pesquisa levou a um melhor controle da cólera aviária.
Jewel Plummer Cobb

Jewel Plummer Cobb nasceu em 1924 em Chicago, Illinois. Seu avô paterno era um escravo liberto e tornou-se farmacêutico depois de conquistar sua liberdade. Jewel matriculou-se na Universidade de Michigan, em 1942, mas insatisfeita com a moradia segregada para estudantes negros, ela se transferiu para o Talladega College, no Alabama, onde graduou-se em Biologia em 1945.
Por ser uma mulher negra, inicialmente lhe foi negada uma bolsa para estudos de pós-graduação em biologia na Universidade de Nova York, mas logo após conseguiu se destacar e ser aceita nesta faculdade. Em 1947, completou seu mestrado pela New York University, e, em 1950, seu Ph.D, com foco em fisiologia celular.
Em sua carreira como pesquisadora, Jewel Cobb descobriu a relação entre a melanina e os danos à pele, e sobre os efeitos de hormônios, luz ultravioleta e agentes quimioterápicos na divisão celular. Também descobriu que o metotrexato era eficaz no tratamento de certos tipos de câncer de pele, câncer de pulmão e leucemia infantil. Esta droga é usada até hoje em quimioterapias para tratar vários tipos de cânceres e doenças auto-imunes. Jewel foi a primeira a publicar dados sobre a capacidade da actinomicina D de causar uma redução de nucléolos no núcleo de células humanas normais e malignas.
Alice Ball

Alice Ball foi uma química norte-americana que desenvolveu o único tratamento efetivo contra a hanseníase até a aparição dos antibióticos, em 1940.Esta cientista começou sua formação na Universidade de Washington e depois se transferiu para o Havaí para fazer a pós-graduação. Ali estabeleceu dois marcos: tornou-se a primeira pessoa afro-americana e a primeira mulher a se formar naquela universidade.
No começo do século XX, a doença, então conhecida como lepra, se espalhava de forma desenfreada, causando um problema de saúde pública para o qual a única solução existente era o isolamento. A polícia prendia os doentes e os encerrava no leprosário de Kalaupapa, na ilha havaiana de Molokai; lá os doentes tomavam óleo de chaulmoogra, que causava fortes dores abdominais.Com 23 anos, Ball, horrorizada por esse panorama, desenvolveu um extrato de óleo injetável que era eficaz contra a doença, conhecido como método de Ball, os doentes já não precisavam mais ser isolados e podiam ver suas famílias.
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Elas venceram todas as barreiras sociais que lhes foram impostas, ser mulher e negra em uma sociedade ainda mais machista e racista, e fizeram história no meio científico. Infelizmente na época em que elas atuaram a biotecnologia ainda não era conhecida ou reconhecida como área do conhecimento como é hoje, mas elas certamente atuaram em alguma das várias subdivisões da biotecnologia e trouxeram mais avanços para todos.
As histórias aqui contadas provam falhas em muitas coisas que nós somos condicionados a acreditar, como uma suposta igualdade de oportunidades, que esforço é só o que basta. Nosso objetivo não é apresentar essas histórias como exemplos de superação, nós queremos provar que o sistema tem falhas. Essas histórias são exceções. Quantas mais mulheres poderiam ter feito avanços tão grandes quanto esses se de fato essa igualdade declarada existisse? É essa a reflexão que a LiNA convida a todos a fazerem.
Autoria: Ana Beatrice Melo – Comunicadora da LiNAbiotec
Edição: Bruno Pereira – Secretário de Comunicação da LiNAbiotec