Pretos e Biotecnologistas

Apesar da Liga Nacional dos Acadêmicos em Biotecnologia sempre ter reconhecido o debate de raça, gênero e sexualidade, pouco sobre isso havia em nossas redes. Entretanto, o momento atual nos chamou atenção para o que de fato significa ser antirracista. Esse debate foi levado ao nosso colegiado diretor e a partir daí, a LiNA vem a público declarar mais uma vez seu apoio  ao movimento antirracismo e tomar, de fato, ações em busca da pluralidade de sua própria imagem, honrando o que definimos como pluralidade de cor.

Existem diversos obstáculos que precisam ser superados quando se fala de vida acadêmica ou carreira científica. Mas algumas pessoas acabam passando por mais dificuldades simplesmente por uma coisa: sua raça.

Atualmente, diferentes notícias sobre racismo nos chegam, mas aqui nós vamos falar sobre pessoas negras que desempenharam papéis brilhantes na ciência! As vidas pretas não tem apenas dor em sua história, elas têm sucesso. Homens pretos que lutaram para conquistar seus sonhos.

George Washington Carver

Abrindo nossa lista, temos George Carver, que nasceu provavelmente em 1864, em Diamond, Missouri, nos Estados Unidos. O “provavelmente” vem do fato dele ser filho de escravos e por isso não se sabe sua data de nascimento exata. O seu senhor de escravos era Moses Carver, um descendente de alemães que tinham comprado seus pais. Com uma semana de vida, George foi sequestrado por pistoleiros. Moses então contratou um agente para encontra-lo e, depois, Moses conseguiu negociar com os pistoleiros para o retorno de George.

Sua vida acadêmica foi bastante difícil devido ao racismo que sofria. Aprendeu a ler e escrever com os pais em casa, pois nenhuma escola local aceitava estudantes negros.

Sofreu com o racismo no ensino superior também, onde, ainda que aceito, não foi permitido que ele de fato frequentasse a Universidade de Highland.

Quando se mudou para Ames, Iowa, pode começar a atuar na área de biologia vegetal. Ao concluir seu bacharelado em ciências, foi convencido por seus professores a permanecer e iniciar o mestrado, estabelecendo assim sua brilhante reputação de botânico.

Nas suas áreas de pesquisa, se destacam métodos de rotação de cultura (para recuperar de forma natural o nitrogênio do solo) e o desenvolvimento de novos usos para culturas como amendoim (produzindo plástico, corantes e cosméticos por exemplo) e batata doce (produzindo cola para selos e borracha sintética).

George Carver deixou ao seu país um legado de valorização da ciência, e de prova que pessoas negras tem tanto valor quanto qualquer um, embora tenha precisado de muito mais esforço pra chegar onde chegou. Carver deixou um legado tão importante que recebeu um monumento. O primeiro a alguém negro e o primeiro dedicado a alguém que não tinha sido presidente do país. 

Carver e a Biotecnologia

George Carver atuou na biotecnologia vegetal, utilizando das características naturais dos seres vivos vegetais para desenvolver novos produtos e também na biotecnologia industrial, criando processos que substituam os já existentes.

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Ernest Everett Just

Ernest Everett nasceu em 14 de agosto de 1883, em Charleston, Carolina do Sul. Perdeu o pai ainda pequeno e logo teve que se mudar devido à grande dívida que sua mãe possuía.

Em 1906 iniciou o ensino médio e, posteriormente, ingressou numa escola preparatória.

Em 1907, formou-se magna cum laude em Biologia, pelo Dartmouth College. Durante sua carreira, Just teve que atuar como docente em áreas distantes da sua especialidade, pois não conseguia emprego devido ao fato de ser negro.

Mas, após grande esforço e tempo, ele pode atuar nas suas áreas de pesquisa e formação. Seus experimentos eram focados em ovos de invertebrados marinhos. Ele estudou a reação de fertilização e os hábitos reprodutivos de diferentes espécies, como Platynereis megalops, Nereis limbata e Arbacia punctulata.

No Laboratório de Biologia Marinha, em Massachusetts, Just aprendeu a lidar com ovos e embriões de invertebrados marinhos. Posteriormente, estudou zoologia e embriologia de invertebrados e em 1916 Just se tornou um dos poucos negros a obter um doutorado em uma grande universidade (Universidade de Chicago).

Publicou dois livros: “Métodos Básicos para Experimentos em Ovos de Mamíferos Marinhos” (1922) e “Biologia da Superfície Celular” (1939) além de pelo menos 70 artigos nas áreas de citologia, fertilização e desenvolvimento embrionário precoce. Como suas principais atividades podemos citar, por exemplo, o descobrimento do bloqueio rápido de polispermia, o estudo dos possíveis efeitos cancerígenos da radiação ultravioleta nas células, além dos suas diversas pesquisa em fertilização.

Everett e a Biotecnologia

Ernest Everett atuou na biotecnologia marinha, obtendo novos recursos de diferentes fontes, bem como na biotecnologia da saúde, investigando novos tratamentos e modificações capazes de lidar com diversas doenças atuais.

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Percy Lavon Julian

Percy Julian nasceu em 11 de abril de 1899, em Montgomery, Alabama. Era neto de ex-escravos. Frequentou a escola até a oitava série, mas não prosseguiu pois não havia escolas de ensino médio abertas para negros.

Ele se candidatou à Universidade DePauw, Indiana, tendo que frequentar o ensino médio a noite para chegar ao nível acadêmico de seus colegas. Formou-se em química, atuando posteriormente como instrutor de química na Universidade Fisk.

Em 1923, recebeu uma bolsa de estudos para cursar a Universidade de Harvard para concluir seu mestrado. Após viajar bastante ensinando em universidades para negros, conseguiu obter seu doutorado na Universidade de Viena, na Áustria, em 1931.

Julian se candidatou a empregos em importantes empresas químicas, mas foi diversas vezes rejeitado por ser negro.

Mas, durante sua carreira acadêmica, ele conseguiu desenvolver diversas pesquisas, valendo destacar a síntese de fisostigmina da Physostigma venenosum (uma planta naturalmente nociva ao homem) para criar um tratamento medicamentoso para o glaucoma. Além disso, quando diretor de laboratório na Glidden Company, ele inventou o Aero-Foam, um produto que usa a proteína da soja para apagar incêndios de petróleo e gás.

Julian e a Biotecnologia

Percy Julian atuou como biotecnologista produzindo, a partir de biomoléculas específicas, ferramentas úteis ao homem, e especificamente na biotecnologia aplicada à saúde, produziu novos tratamentos a partir de plantas.

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Como vemos, ser negro travou essas histórias, mas não para sempre. As marcas desses homens na ciência foram profundas, mas ainda não chegam a todas as pessoas e a LiNA reafirma seu papel de fazer esse conteúdo se espalhar. Queremos continuar quebrando essa imagem de sofrimento e dor, respeitando a história e mostrando que a essa cor tem muito mais a oferecer. As vidas desses homens são exemplos e nós vamos continuar mostrando isso na nossa instituição não apenas em textos e publicações, mas também em nossas outras ações, nos NÚCLEO’s, nas nossas lives, e em todos os espaços que a Liga preenche. Nós vamos continuar levando essas cores até depois do fim, porque #VidasPretasImportam.

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Você pode consultar as referências aqui.

Autor: Joabson Nogueira | Comunicador da LiNAbiotec
Edição: Bruno Pereira | Secretário de Comunicação da LiNAbiotec

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